Cheiro de pipoca irradiava no ar, e barraquinhas de comidas espalhavam-se ao redor do parque de diversões, oferecendo todo tipo de comida gordurosa e doces que você pode comer, enquanto reza para que não vomite tudo caso vá andar em algum brinquedo, principalmente naqueles que fazem movimentos bruscos e te deixam tonto e aéreo, você sai deles mal sentindo seus pés, é quase como se você flutuasse, e seu estômago com certeza detestaria essa ideia.
O dia estava quente, crianças bonitinhas corriam de um lado para o outro, a fila para comprar os tickets estava imensa, talvez uma caminhada fosse o suficiente. Nada de comidas calóricas, nada de diversão, estava ali pois foi o primeiro lugar do qual lembrei quando decidi enfim sair da prisão que se tornou o meu quarto.
Avistei uma roda gigante que resplandecia, iluminando mesmo à luz da tarde, alguns casais estavam sentados nela. Uma cena em comum me chamou atenção, havia um garoto sentado sozinho em um dos assentos e bem logo acima uma garota sentada também sozinha, quando o brinquedo parou, os dois desceram, um ao lado do outro, seus olhares se encontraram, e algo tão resplandecente como a roda gigante os cercou ali, como se somente eles estivessem presentes no parque, tão confortáveis sendo quem são, sem medo de dizerem o que sentem, era uma conexão tão forte que desvanecia qualquer coisa que pudesse ter chance de brilhar em seus caminhos.
O garoto dos olhos esverdeados sorriu para a garota, e ela retribuiu com um sorriso que roubou toda a luz do mundo, fez as estrelas descerem do céu e dançarem ao seu redor com apenas aquele ato, ela lhe disse algo, algo que não lembro mais, nem mesmo daqui agora consigo me recordar, será que já estou tão distante assim? Eu vi que o garoto assentiu ao que ela disse timidamente, e voltando-se a roda gigante, ambos entregaram os tickets novamente para ir mais uma vez no brinquedo, dessa vez juntos no mesmo assento. Meu telefone vibrou no bolso de meu casaco de lã, era uma mensagem simples, dizia: “Onde você está?”, olhei para cima, o sol estava partindo dando lugar a uma garoa, e as nuvens começavam a se formar como se fossem enormes algodões-doces cinzentos.
Eu sabia que nada era para sempre, até mesmo algo que já foi raro um dia pode não valer mais nada, apenas uma memória perfeita, de algo que já foi perfeito, tão perfeito. Eu respondi, vazia: “Desculpe por não atender o telefone, estou ocupada demais tentando voar para longe”.
Olhei para a roda gigante, enferrujada e com as luzes queimadas, as crianças bonitinhas estavam mais para sujinhas agora, brincavam nas poças de lama do parque de diversões abandonado, chovia muito, muito, e eu não sabia mais diferenciar minhas lágrimas vazias das gotículas de chuva que deixei inundar minha face.
📝Essa lovestorie foi inspirada nesta música, achei que ela combinasse bem em como está sendo a primavera deste ano... E a fotografia da roda gigante é no Parque Villa-Lobos, quando o visitei há algumas semanas atrás.
Lendo seu texto, me senti naquele clipe Smile, da Lily Allen. Ela vai andando pelas ruas e vê as coisas mais bonitas e poéticas do que realmente são. Acho que o clipe é uma crítica a esse comportamento, mas eu acho muito válido. De vez em quando, olhar o lado mais bonito das situações é o único jeito de voar para longe.
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