O que poderia ter sido

22 janeiro, 2022

Estava lendo "A Biblioteca da Meia-Noite" agora há pouco, foi um dos livros que coloquei como meta de leitura para este ano. Parece que o tema central de toda a vida da personagem gira em torno do arrependimento, e resumindo rapidamente aqui o contexto da história, o livro narra a história da Nora, essa mulher que se encontra deprimida pelo rumo que sua vida tomou, uma vida que poderia ter sido muito mais feliz e de sucesso, se ela tivesse feito uma coisa ou outra diferente nela. 

À meia-noite, quando decidi morrer por overdose, ela acorda na Biblioteca da Meia-Noite, onde pode revisitar as várias vidas que poderia ter tido, basicamente se feito aquilo que ela se arrepende no momento de não ter feito. Eu não terminei ainda, mas o livro seguirá essa narrativa, e logo na primeira viagem de Nora, ela se depara com uma vida que ela romantizou tanto pois pareceria perfeita, mas chegando lá não foi, foi mais deprimente ainda talvez...

"— Cada arrependimento que você já teve, desde o  dia do seu nascimento, está registrado aqui — disse a Sra. Elm, batendo com o dedo na capa. — Eu lhe dou permissão para abri-lo agora.
Como o livro era muito pesado, Nora se sentou no chão de pedra, com as pernas cruzadas, para abri-lo. Então começou a folheá-lo."

Quando assisti "De Repente 30" pelo que talvez tenha sido a terceira ou quarta vez na pré-adolescência, a mãe da Jenna diz a ela que ela não se arrepende de nada em sua vida, pois se tivesse, não haveria aprendido nada. Essa foi a primeira vez que assisti ao filme realmente com atenção, e essa frase dita pela Sra. Rink, acabei levando comigo praticamente até os dias de hoje, pois com meus treze anos já era uma arrependida, e após escutar isso, esses pensamentos de arrependimentos foram amenizados. 

Contudo, voltaram depois, depois que completei dezenove anos e praticamente tive um glow-up rs, e se vocês forem ler algumas postagens antigas aqui do blog, irão se deparar comigo comentando uma coisa ou outra sobre isso, eu basicamente passei a cuidar melhor da minha aparência, pois me sentia melhor mentalmente, e foi aí que os pensamentos voltaram, como eu poderia ter feito mil coisas diferentes se fosse tão bonita quanto era agora, e enquanto eu escrevia essa última frase eu dei uma risadinha aqui, pois, nossa Beatriz, que pensamento ridículo, minha querida.

Nada poderia ter sido diferente, ou tudo poderia ter sido.
Mas, se fosse diferente, quem disse que seria um diferente "bom"? Eu já havia chegado nessa linha de raciocínio antes, mas quando tantos arrependimentos nos cercam, a gente esquece a lógica completamente!
E lendo esse capítulo do livro, eu me lembrei disso, pois esses dias tenho ruminado eternamente exatamente as mesmas coisas que a Nora, e infelizmente, me identifiquei com ela, infelizmente pois ela não está em um lugar muito bom em sua vida, então se identificar com ela tem esse lado triste.

Outra coisa que lembrei também foi que ano passado, toda vez que algo não dava certo com alguém, ou uma coisa se repetia pela milésima vez e me deixava mal (e logo, arrependida), eu chegava para minha terapeuta na próxima sessão e dizia: "foi um surto coletivo eu me envolver com ele" - ou "gostar dele" em outras ocasiões, rs -, ou "nunca deveria tê-lo conhecido!", e outras sentenças com o mesmo sentido que essas, e para pessoas diferentes. Eu mal sabia o quão parecia arrependida, mas não me dei conta de que estava mesmo, e fiquei repetindo os mesmos erros, e a história se repetia, e eu me arrependia e entrava nesse ciclo vicioso.

Porque quando a gente se arrepende, nós dizimamos nossos sentimentos e emoções também? Eu mesma tratei o que senti como nada, dizendo que era "surto coletivo meu" e soltando uma risadinha em seguida, como se eu tivesse superado rapidamente o que me magoou e já tivesse esquecido a pessoa, eu era a quem mais estava me machucando, rejeitando o que senti, pois me sentia arrependida.

Não quero me arrepender mais, quero errar mesmo, quero sentir coisas e não descartá-las depois se der errado,  como se fosse durona e superior, eu não sou durona, muito menos superior, eu sinto coisas demais, me importo demais certas vezes, sou sensível, e eu sou um ser humano, tenho que me permitir sentir, me permitir sentir antes, durante e principalmente depois, sem me arrepender.

Eu vou me arrepender de não ter ido à biblioteca durante as férias, vou me arrepender se não sair para passear com minha mãe hoje, e cogito não ir pois fiquei até às 22h na emergência ontem, após 5h de espera, e a consulta foi simplesmente desastrosa, eu saí de lá chorando, e obrigada máscara e óculos por ocultar minha cara de camarão de choro, depois disso me arrependi por ter chorado, haviam pessoas perto e elas provavelmente perceberam algo de errado com a menina que estava rindo com elas minutos antes na sala de espera. Cheguei em casa apenas querendo dormir, pois pensei que o arrependimento por ter chorado e tudo mais, iria passar na manhã seguinte, ou ao menos se amenizar.

Eu quero ir à biblioteca, logo após ter feito meus exercícios, vou chegar lá cedinho, e ler apreciando o quanto sou sortuda por ter uma biblioteca tão bonita como ela pertinho de mim, tão parecida como uma biblioteca mágica dos livros, e com ar condicionado grátis, o que é um bônus e tanto diante do calor sobrenatural que tem feito esses dias... E na hora do almoço vou à cafeteria, e sei que a caixa já até sabe meu pedido de sempre, um croissant de queijo minas e alho-poró com matte batido com morangos. E depois disso, irei voltar à biblioteca, e ficarei lá fazendo o que mais gosto, que é ler.

Eu quero ir à cidade vizinha passear com minha mãe - ela fez o convite ao ver o quão isolada tenho ficado em casa esses dias, e ainda mais após eu voltar do hospital ontem -, quero ir aos sebos, e encontrar mais livros para levar comigo, quero almoçar naquele restaurante de sempre, e ir ao camelô comprar um daqueles relógios digitais da moda que acho super bacana e que adoraria usar, pois eu costumava estar sempre de relógio no pulso. Quero tomar sorvete, quero sentir o sol, pois sei que ainda o amo mesmo ele estando demasiadamente quente esses dias, hahah, quero ir na orla da praia ficar encarando as mesmas tartarugas de sempre no mar, e quero ir no pão-de-açúcar comprar mais das minhas barrinhas de cereais.

Sem arrependimentos, eu vivo. Com arrependimentos, eu só fico pensando no que poderia ter vivido, por mais bobo que tenha sido a ocasião, como uma ida à biblioteca, ou um passeio na cidade, com coisas que já costumo fazer sempre...
Todo dia eu penso no que poderia ter sido, e porque deixo o medo e o arrependimento de algo que se quer nem aconteceu me atrapalhar. Talvez eu devesse assistir a "De Repente 30" hoje à noite novamente quando voltar do passeio com minha mãe, e na hora de dormir, eu vou ler mais uns capítulos do livro. E na semana que vem, venho compartilhar fotos da biblioteca aqui no blog.

Obrigada por ler até aqui :)
Abraços,
Bia ♥

3 comentários

  1. Gente, viu guardar esse texto no coração ❤️. Precisava disso.

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  2. A experiência que guardamos perante a vida, nos moldam nos dias de hoje, quem te garante que seria diferente? Ou melhor? Nada lhe garante. Aceitar, é o melhor remédio.
    Eu achei perfeito. Realmente, ficamos pensando no que poderíamos ter feito, mas nunca Realmente fazemos. Fiquei feliz e depois de dois anos, ter saído de casa para assistir a um workshop de mini hambúrguer, viver é melhor, e não estar se arrependendo por não tê-lo feito, é mais perfeito ainda!

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  3. Bia, minha querida, que abraço que eu quero te dar depois de ler esse texto! Juro que deveria tê-lo lido em janeiro, quando o publicou mas calhou de ser hoje, em junho, quando me sinto como a você que redigiu essas palavras e tal como o personagem da Nora e o único pensamento que me vem a cabeça é aquela velha frase "se arrependimento matasse..." mas ele não mata, não mata o corpo, só corrói a mente mesmo e leva o corpo em seguida.

    Não me sinto arrependida num todo, só reflexiva sobre como estaria caso tivesse entrado numa faculdade logo depois do colegial e como a minha cabeça não estaria também. Enfim. Enfim.

    Vou ficando por aqui querida, uma boa, uma ótima semana para você ♡

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